Fonte: PortalDBO
Como o Portal DBO mostrou em duas matérias recentes, um solo com saúde é aquele que apresenta equilíbrio e integralidade nos seus aspectos físicos, químicos e biológicos.
Todos são interdependentes, porém um ou outro pode pedir ações mais imediatas, como a parte física da terra, urgindo por proteção contra erosões, falta de aeração e drenagem de água por compactação.
“Da mesma forma podemos entender os aspectos químicos do solo: sua alquimia”, alude Augusto de Queiroz Pedrazzi, engenheiro agrônomo, administrador rural e especialista em gestão de áreas degradadas e produção eficiente de bovinos de corte. “Separar em aspectos facilita a compreensão, mas abaixo dos nossos pés, eles se confundem”, reforça.
Para tirar o solo da UTI, o técnico sugere que, antes de mais nada, o produtor esteja cercado de boa assessoria: profissionais que não sejam “tendenciosos”.
“Deve-se escolher aqueles que compreendam muito bem a realidade da fazenda e que valorizem a rentabilidade do negócio e disponham da enormidade de ferramentas para diagnóstico e planejamento de recuperação que existem”.
O importante dimensionamento – É preciso saber se o negócio permite ou não adubar três toneladas de insumos, por exemplo. Às vezes falta maquinário, embora haja sempre uma parceria que possa ser estabelecida.
Tudo deve ser ponderado e contar com conhecimento da região (clima e solos) e muita criatividade. A boa notícia é que há grandes profissionais especializados nessa área.
A primeira certeza é de que uma análise bem-feita do solo deve ser feita logo após constatar sua redução de produtividade. Normalmente, essa queda acontece em áreas e não em um único espaço da propriedade. De posse desse diagnóstico é hora de olhar para o próprio umbigo e tomar decisões em função da lucratividade.
Não adianta só identificar os piores piquetes. É preciso agir para recuperar. Tem de se ter em mente a saúde financeira e, por isso, encontrar os espaços que possam responder com agilidade e trazer ganhos mais rapidamente, para então planejar as ações. A saúde de caixa é fundamental para qualquer investimento se manter, inclusive vislumbrando um solo saudável para um bom futuro.
Curiosamente, ocorre que áreas mais argilosas, por exemplo, podem demandar mais recursos do que áreas quase que degradadas ou arenosas. “Então, essas podem até responder mais rapidamente e com menos dinheiro. Para tanto, a identificação (mapeamento) é fundamental! Equiparar a produção de áreas mais arenosas às mais argilosas pode ser uma grande estratégia, em curto ou médio prazos”.
Técnicas e ferramentas disponíveis – Nesse sentido, a agricultura de precisão veio desvendar o potencial de áreas até diminutas, aquelas, por exemplo, que podem responder mais rapidamente aos menores investimentos e gerar caixa, entre as que vão precisar de mais recursos. A ideia é que seus diagnósticos apoiem, cirurgicamente, a maximização de resultados sem prejuízo de caixa.
Tudo depende do sistema produtivo, da rentabilidade dele e do nível de tecnificação. No caso do uso de Integração Lavoura Pecuária (ILP), o retorno do investimento é mais rápido, por exemplo. E também vale esclarecer que a agricultura de precisão harmoniza a produção por hectare, mas não retira completamente as diferenças, que são naturais.
Cada mancha de solo tem suas particularidades e deve ser trabalhada para recuperar individualmente os aspectos físicos, químicos e biológicos (de cada uma, separadamente) para restabelecer a saúde do solo e a melhor produtividade. Neste sentido, o plantio direto é quase que indispensável para qualquer cultura que se quiser estabelecer nos trópicos.
Então, mesmo no caso da cultura de capim, aquela que produz carne (proteína vermelha), após estar no limite da exploração, o trabalho de cobertura deve ser considerado.
“É uma forma de aproveitar a cobertura viva (vegetal) e dinamizar o próximo ciclo das forrageiras, valendo-se da palha que está depositada sobre o solo”, esclarece Pedrazzi.
Não se deve perder de vista – Manejar pastagens com vedação é sempre a melhor estratégia econômica. “Ninguém dá valor à lotação limite de uma área de pasto e depois reclama. Isso deve ser bastante considerado”.
É muito melhor investir em genética mais adaptada e em sistemas menos intensivos, do que em altas estratégias de recuperação de solo; lembrando que “a grade é última opção, caso recomendações estejam bem fundamentadas”.
Depois deve-se corrigir a parte química, sua alquimia, que é muito dependente da chuva (o regime de águas). “Não aposte em reformas se não vai ter água! No entanto, não se pode esquecer que bom manejo e riqueza química tornam o solo mais resistente à falta de chuva, por exemplo. A alquimia disponível torna a planta mais longeva, sempre”, explica o agrônomo.
O quanto e como se pode fazer para recuperar a saúde do solo, no caso específico de lavoura de capim, do ponto de vista químico, depende de avaliação prévia (análise laboratorial). Isso é conhecer sua composição e adicionar o que lhe falta. Na hora de escolher os produtos comerciais a aplicar, vale a pena conferir sua qualidade. As respostas são diferentes ao longo do tempo, com maior ou menor custo.
Às vezes, somente a cobertura de cálcio traz um grande alento. Mas a relação zinco e cobre também é importante! E ainda há a de ferro e manganês. Outro elemento importante é o Boro. Ele é justamente quem vai trabalhar a qualidade biológica e química do solo, comportando-se de forma muito dinâmica dentro da seiva da planta. “E é aqui onde o investimento em alquimia começa a retornar”.
Este é um elemento que trabalha muito a raiz das plantas e sua interação própria com o solo, dando-lhe mais vigor e estrutura no cumprimento do seu papel. “Recuperar a saúde da terra passa por inúmeras etapas que não são atitudes isoladas. Devemos compreender cada um de seus aspectos e apostas que, com o tempo, os gastos com solo se tornarão cada vez menores. E isso é renda”, conclui Pedrazzi.